21 de abril de 2016

A doença do século é a ignorância

Tem dias que você acorda bem. Sabe que vai ter um dia longo pela frente, e tem tudo o que tem que fazer de cabeça, não enrola para se levantar, corre para sair e, de repente, para. Você congela. 
          A história se repete regularmente. Ninguém sabe o que está acontecendo: você, porque não sabe de onde vem esse medo irracional; e principalmente as pessoas, já que você não as deixa saber de nada. Se volta para casa, não pode dizer para sua família que não tem coragem de ir lá fora, que não quer que ninguém te veja assim - você tem que dizer que recebeu uma mensagem dizendo que o professor faltou, que a sua chefe disse que deveria tirar suas horas extras hoje para fechar o ponto do serviço. Quando se faz isso por semanas, as pessoas começam a perceber que tem algo errado com você.
   O médico falou que eu estou em uma condição diferente dos demais. Eu pedi uma explicação e recebi uma resposta simples: Ansiedade, depressão leve e o pior de todos: sociofobia. Eu não conhecia esse termo. Uma fobia é um medo persistente e irracional de um tipo de objeto, animal, atividade ou situação, ou seja, algo que você entende que não tem razão para ter pavor e continua tendo. Sabe do que eu tenho fobia? De gente.
          Mesmo que possa nos melhorar, não é simples falar com as pessoas. Criamos um monstro. Um monstro que faz perguntas e ele tem o rosto de todos os desconhecidos na rua, de todos os colegas de trabalho, professores e até da sua família. Um monstro que te faz lembrar, a cada fração de segundo, de duas simples perguntas: o que você está fazendo perto de mim e o que você acha que eu tenho que melhorar agora?



    
  Por isso, acaba se isolando de tudo por medo de ser ferida, e isso te piora gradativamente. Você odeia ficar ali, presa, sozinha, e também odeia que qualquer pessoa te ajude por não querer prender elas a isso também. Não está feliz em sair, mas não está feliz em ficar em casa. Quer sair do trabalho para ter mais tempo de tentar viver e se desespera em pensar no que pode causar a si mesma com tanto tempo livre. 
Isso não vai sair no seu exame de sangue, fezes, ultrassom - mas é real. Afeta as pessoas de dentro por fora, como um vírus. É tão forte que tem remédios para controlar - isso mesmo, controlar- as pessoas que sofrem com isso. Não se controla o que não se oferece risco. Quando falam disso, tudo o que as pessoas dizem é "isso é besteira", "só tenta relaxar", "levanta", "esses remédios vão te fazer mal", " isso é falta de Deus". Percebe? É sempre sua culpa. É sempre como se você não se esforçasse o bastante, se faltasse os compromissos por preguiça, se você fosse fraca e não que estivesse fraca. As pessoas nunca dizem que querem que fique melhor, que vão te indicar um tratamento, que vão rezar para você conseguir se curar. As pessoas vêem isso todos os dias, está estampado na cara delas. Todo mundo percebe quando há algo de errado com alguém, independente de quão bom essa pessoa seja em esconder o que sente. Sempre tem um momento onde estes ficam vulneráveis e a depressão/sociofobia intensifica isso. 
Eu não estou dizendo que você é responsável. Talvez nunca tenha tido que escolher entre alguma droga e ficar completamente sozinha. Você pode sim, e muito bem, não ter nada a ver com isso: o que estou dizendo a você é que essa é uma doença formada por opiniões. As pessoas desenvolvem um distúrbio por medo de opiniões em geral. Por que você acha que expor a sua a plenos pulmões não pode agravar essa situação?
Você não é obrigado a nos tratar como diferentes e nem eu estou querendo algo assim. Estou querendo parar de escutar "você deveria se controlar, sair dessa, parar de bobeira" toda vez que eu simplesmente não souber por onde começar a te explicar o porque aquele não é um dia bom. Infelizmente, não se trata de me controlar, nem que eu queira muito, então pare de dizer isso. Se trata de terapia.
Não tem porque menosprezar uma pessoa que já faz isso com ela mesma. Não tem porque olhar torto, deixar para lá e não se importar com ela. Se é alguém que você tem o mínimo de carinho, você deve saber que estar assim não é culpa sua e nem dela. 
         Por favor, não peça para abandonar esse monstro como se ele não fosse parte de nós mesmos. Ajude a não precisar mais dele.

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