3 de julho de 2016

Eu me chamo depressão


De repente, você se sente liberta. Livre de qualquer possível ilusão. Aquela sensação sufocante de limbo foi embora, você não tem mais que escolher nada, não tem mais que lutar com nada. Finalmente acabou. Você desistiu e, pior: você sente que venceu quando seu corpo se vê sendo arremessado do último andar do prédio. Tem alguma coisa dentro de você que diz que aquela não é a melhor solução, mas você não estará mais ali para se importar. Quer alívio melhor que esse?
Você não vai mais ouvir mensagens positivas e nem perder o controle na frente de todo mundo. Não vai mais encarar os olhares deles e nem o do psicólogo te dizendo o como você vale a pena. Você sente pena. "Como será que ele não vê?", você se pergunta. "Será que ele sabe que fala com um fantasma?".
Tem alguém te perguntando sobre sua família agora. Eu estou no seu enterro. Sou seu maior medo. Tudo o que você quer é que eu vá embora, como se eu te possuísse. Talvez, se você tivesse fé, fosse nisso que acreditasse - e nem isso você faz. Sabe que eu não sou filho de um demônio, de uma sombra, de um espírito vagante. Sou um reflexo de você e vou devorar cada resto da outra parte.
Seu namorado está chorando. Você está sorrindo, onde quer que esteja, porque sabe que tudo foi por água abaixo. Você se sente feliz e mesmo assim se sente triste por ele. O limbo nunca acaba porque você sabe que eu vou estar ali,todos os dias, na cabeça dele. Você se sente idiota. Ah, esqueci, você não sente nada. Você está morta.
Sua mãe não vai durar muito tempo. Você sempre soube disso e mesmo assim se jogou.
Então, quem seria você agora? A corajosa, que conseguiu derrotar cada medo, ou a covarde que deixou seu pequeno time para o abate? A desgraça vai cair mais forte sobre eles. A tristeza vai os consumir com lembranças suas, dos risos e dos choros, e vai fazer os perguntar porque você foi embora. Foi como eu cheguei em você e vai ser como eu vou chegar neles, um por um.
Você é como uma maçã podre: se você perceber que o é, vai estar poluindo todas a sua volta. Se você for corajosa e se matar, eu vou fazer questão de te lembrar antes que, na verdade, foi covarde ao apodrecer eles.
Isso nunca sara. Nunca vai embora. Só piora. Você sabe a cura. E ela te apavora.
Você sente medo de falar e medo de não falar. Medo de comer e medo de não comer. Medo de trabalhar e de faltar, de namorar e de terminar, de ser feliz e de ter um crise. Sabe do que você vai acabar vivendo, querida? De mim.
Eu me chamo depressão. Eu faço jogos com você. Eu bagunço sua cabeça até que você exploda ela. Eu me chamo você. E a partir de agora, você está ciente: não tente me diminuir. Eu nunca vou embora. No estágio em que estamos, eu e você somos a mesma pessoa. Vou assombrar cada um deles. Melhor dizendo: você é quem vai.
Não tente fingir que não me sente.

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